sábado, 27 de dezembro de 2008

Capítulo 6 [2]

Hoje fazes 8 anos. Não gosto de dizer “fazias 8 anos”, porque tu ainda cá estás. E hoje faço-te uma festa, minha filha, hoje o coração está revestido de balões, serpentinas e bolos coloridos, para te receber. Estás de parabéns, e não só por te teres conseguido manter cá dentro, por não teres tido vontade de fugir quando percebeste o estado a que cheguei. Estás de parabéns por me teres mudado.
Sim, eu percebi a partida, Mariana! Eu percebi o que querias com o Diogo… percebi o truque de te despejares em cima dele!
Despejar talvez seja uma palavra feia – não encontro outra. Despejaste-te, literalmente. Aquele olhar é teu, aquele sorriso é teu, e sei que foi por ti que mudei.
Quem ler isto ainda me interpreta mal. Mas não vai ler, tu vais ler, e sei como me percebes. O Diogo foi tão importante, é tão importante. Mas é tão infinitamente criança que não se importa minimamente se lhe disser que foi por ti que mudei. Ele sabe, no fundo. Sabe como és importante, sabe que és tu que me moves. És tu a única pessoa capaz de me fazer levantar da cama a cada manhã.
Todos os dias, antes de me levantar, penso no teu sorriso e no orgulho que terias de mim. Pareço uma criança a querer agradar os papás… neste caso, sou uma criança a querer agradar outra criança, e isso faz-me muito feliz.
Desta secretária onde estou dá para ver muito bem o Diogo. A porta é transparente, por isso dá para ver um pouquinho da loja… agora tem um piano reservado para o pequenino. E como ele toca bem, Mariana… tem um sentido musical fora do normal, para a idade. Adoro ouvi-lo tocar. Mas ainda gosto mais de ver a mãe babada a olhá-lo. Ela também mudou muito, sabes? O pai ainda continua lá nos seus negócios, mas eu ia jurar que ela cresceu.
Como está diferente do dia em que a conheci. Quando, naquele dia, desci as escadas que davam para a sala, com as roupas que eram dela, encontrei uma mulher triste. Uma mulher que eu conhecia muito bem, de olhar cansado e demasiado preocupada com as coisas urgentes. Eu, que agora dava mais importância às importantes, sabia vê-lo bem.
Quando me viu, saiu-lhe um instantâneo “Quem é esta?!”, acompanhado de um desprezo que me incomodou.
O Diogo foi impecável, apenas disse:
- É uma amiga minha, mamã! É contabilista, e achei que te podia ajudar!
- Contabilista? Boa, era mesmo disso que estava a precisar.
Fez um sorriso de alívio. Achei estranho que não fizesse mais perguntas, mas era tão “grande” que devia achar normal que o filho de seis anos tivesse amigos contabilistas, advogados, juízes e jornalistas.
Dirigiu-me a uma sala, acho que era o escritório. Aí, fez-me meia dúzia de perguntas que tinham a ver com a minha experiência como contabilista e mais nada. Acho que se lhe dissesse que não percebia nada de números e que aquilo era só mais um passatempo ela nem sequer ia ouvir. O cargo estava finalmente ocupado, era o que interessava.
Decidi não lhe contar nada, porque não era o momento certo. Nessa noite, fiquei no quarto de hóspedes. Nessa e em todas as outras, na verdade. Foi a única coisa que pedi, além do modesto ordenado que me estava reservado: um sítio para dormir, “enquanto não me arranjava”.
Ela assentiu, e não fez mais perguntas. Acho que foi isso que mais me incomodou nela, sabes? A indiferença, a falta de curiosidade.
Não, a curiosidade não era nada que a atingisse. A verdade é que andava demasiado ocupada no seu mundinho, nas coisas a cumprir, no passo a dar a seguir. Ter curiosidade era dar demasiada atenção aos outros, e ela não tinha tempo para isso.
Não a podia condenar, não achas? Ela era, na verdade, espelho de mim própria! Mas havia de conseguir chamá-la à atenção, havia de conseguir aquilo que ninguém conseguiu comigo... eu aprendi à minha custa, e não o aconselho a ninguém!
Comecei a trabalhar no dia seguinte. Senti-me destreinada, fora daquele mundo de contas e trapalhadas, mas com o tempo fui-me habituando e a rapidez e a perspicácia voltaram.
Uma semana depois de estar instalada, sentia já que o meu trabalho agradava a D. Luísa.
Ainda não te tinha dito o nome dela, pois não? Talvez não, porque talvez até aqui ela não precisasse realmente de nome: era muito pouco pessoa!
Agora precisa.
Naquela sexta-feira à noite, depois de um dia de trabalho, a D. Luísa preparava-se para sair da loja. Não que fosse deixar de trabalhar, que o mais provável era, a seguir, fechar-se no escritório de casa a acabar o trabalho do dia.
Por uma razão qualquer que não te consigo agora explicar, chamei-a, já ela tinha a mão na maçaneta da porta.
- Preciso de falar consigo.
Fez cara impaciente.
- Diga, Laura, e rápido, que estou com pressa.
Respirei fundo:
- Eu sou uma sem-abrigo.

2 comentários:

Sol da manhã disse...

HIHIIHIHIIHIHIHIIHIHIHIHIHIHIH

Eu acho que a Laura vai "acordar" a mãe do Diogo! Parece, pela carta à Mariana!

Yuuuuupppppppppppiiiiiiiiiiiiiiiii

É pá! EU acho que ela até vai ter tonturas... uma sem-abrigo na sua casa toda pipi! eheehhhehehhehe


Já deu para perceber que estou a vibrar com esta história, não já Maria Inês?!!!! :D:D:D

Olha, olha faltam 5 dias, CINCO dias para me ensinares a brincar à camaleão! lálálálálálálá...

Um beijinho MUITO grande!

SHALOMMMMMMMMMMMMMMMM

Inês disse...

Ó Maria.
Só tu :P

CINCO diaaaas! :D:D

lá lá

Gosto de tiiii :D