domingo, 14 de dezembro de 2008

Capítulo 3 [1]

O Sol inundava o jardim através das ramagens secas de um Outono a chegar ao fim. Adivinhava-se um dia quente e de céu bem azul. Laura abriu os olhos. Pela primeira vez em duas semanas, sentiu calor. Tirou o casacão, foi até à fonte e lavou a cara. Estranhamente, sentiu-se muito bem. Os olhos estavam ainda inchados de horas e horas de lágrimas, mas parecia que lhe tinham lavado a alma. “E bem que precisava”, pensou.

Dali, da fonte, podia ver todo o jardim. Era o lugar que conhecia mais parecido com uma casa… passava ali a maior parte da sua vida, ainda não conseguira explicar porquê. Talvez fosse a esperança. Sim, era isso, agora reparava. Aquele lugar, apesar de deserto na maioria dos dias, era sobretudo um lugar de encontros… via-o essencialmente aos fins-de-semana. Pares de namorados, crianças com os pais ou os avós, grupos de amigos, gente que lá ia apenas para fazer desporto e descarregar o stress do dia-a-dia…

Normalmente não reparava, tão embrenhada estava na sua vida de morte. Mas havia alturas em que julgava ver, naquele jardim, o lado bom do Mundo. Aquelas pessoas felizes davam-lhe a ilusão de que não era tudo mau.

No entanto, sabia como desdenhavam a sua presença. Várias vezes tinha visto olhares incomodados com a sem-abrigo-que-destrói-o-aspecto-tão-bonito- -do-jardim. Já tinha aprendido a ignorar. Preferia concentrar-se no tão raro espectáculo do amor a acontecer à sua frente.

Respirou fundo. Das mãos e da cara ainda escorria a água gelada da fonte. Olhou de novo para o banco, que, enquanto esperava que a vida passasse, lhe servia de cama, de cadeira, de sofá, de chão.

Já não se esforçava para ter ali lugar, parecia que o Mundo já lho tinha reservado. Ninguém precisava daquele banco de sem-abrigo para nada. Era todo seu.

Lá estavam, pousadas, a meia dúzia de coisas que ainda lhe pertenciam. Bem, aliás… a meia dúzia de coisas que ainda lhe pertenciam… e não só!

Esfregou os olhos três vezes antes de acreditar. No banco não estava só a manta, o casacão, o saco plástico com as duas camisolas gastas, a t-shirt dos dias bonitos e o envelope com as últimas recordações de Mariana e Afonso… no banco estava também uma criança!

Um comentário:

Sol da manhã disse...

Surpreendes-me a cada capítulo!!!

Exigência da fã n. 1:

História autografada... A-U-T-O-G-R-A-F-A-D-A!

Impressa em papel de 80 gr/m2, agrafada, mas A-U-T-O-G-R-A-F-A-D-A!

Pronto, ufa... consegui dizer... e fazer não uma, não duas, mas TRÊS exigências...


Que espectáculo.... quero mais, quero mais, quero mais!!! :D

Um beijinho muito GRANDE!