Nunca mais esqueceria a sensação que lhe percorria o corpo enquanto seguia o rapaz, segurando a sua mãozinha de criança, enquanto ele a levava pela rua que ladeava o jardim. Não andaram muito. A casa dele era ali a trezentos metros do jardim a que chamava “casa”.
Entraram. Laura ficava mais admirada a cada passo que dava.
Aquilo era um casarão. Bonito, bem decorado. A verdade era que, sempre que imaginava a casa do Diogo, vinham-lhe à cabeça imagens de um apartamento modesto num prédio citadino. Às vezes imaginava até uma moradia pequena, de dois andares e não muito vistosa.
Mas nunca aquilo. Nunca vira o Diogo como um miúdo riquinho, porque ele era demasiado simples.
Mais engraçado ainda. Já passara por ali inúmeras vezes, e ficava sempre maravilhada a olhar. Pensava que adoraria entrar uma vez que fosse numa casa assim, para ver a sensação. Imaginava-se muitas vezes a entrar e a levitar, porque uma casa assim devia ter um chão demasiado caro para se calcar.
Mas o Diogo parecia não ligar muito aos jarrões, aos tapetes caros ou ao piano Steinway&Sons que reluzia na sala de estar.
Laura sempre gostara de tocar piano, apesar de já não se sentar num há anos. Tocou durante cinco anos, quando era miúda, e desde então muito raramente se sentava a tocar.
Na verdade, já não se lembrava bem de nenhuma das peças que o professor da escola de música lhe ensinara. Muito menos agora. Já tinha perdido a esperança de algum dia voltar a tocar.
Um Steinway&Sons. Um dos melhores pianos do Mundo ali, à sua beira. E o rapaz continuava a puxá-la pelos labirintos daquela casa enorme. Perdia-se ali dentro, pensou. Mas o Diogo parecia conhecê-los a todos muito bem.
O seu passo continuava certeiro. Atravessava corredores, subia escadas, depois mais umas quantas. Parou. Aquela devia ser a porta do seu quarto. Abriu, e fê-la entrar.
Era verdade. Aquele só podia ser o seu quarto. Era enorme, tinha uma cama larga e dum azul muito vivo. Ao lado, móveis enormes com brinquedos, televisão, aparelhagem, livros e mais livros de criança.
Uma mesa com um computador topo de gama, um puf de couro bem grande e colorido. À esquerda, uma enorme pista de carros novinha em folha.
Aquilo era um paraíso para qualquer criança! Tinha tudo! Se quisesse, podia passar a vida toda ali porque arranjaria sempre algo novo a que brincar.
Mas algo lhe dizia que aquela não era uma “criança qualquer”. Tudo, tudo o que ali estava cheirava a novo. Parecia nunca ter sido tocado. E talvez nunca tivesse sido.
- Diz-me, Diogo, como é que tu preferes ir ter comigo a brincar neste paraíso?
Ele riu-se.
- Isto não é um paraíso. Não gosto nada. Contigo posso brincar… gosto mais de brincar com amigos do que com coisas.
- Sim, mas… olha, porque não trazes para aqui os teus amigos da escola? Eles iam gostar tanto…
- A minha mãe não gosta que traga aqui gente. Diz que “os putos” ainda lhe estragam alguma coisa.
Olhou-o. Estava com aquele sorriso triste que lhe tinha visto da única vez que tinha falado dos pais.
- Diogo, porque é que me trouxeste cá? Porque é que nunca me falaste dos teus pais? Porque é que evitas tanto a conversa? Eles sabem que eu existo? Eles deixam-te ir brincar sozinho para o jardim todos os dias? Eles não vão ficar zangados por me trazeres a mim, que sou tão pobre, para esta casa tão bonita?
Eram perguntas que lhe estavam presas na garganta. Desta vez, não tinha conseguido travá-las.
A partir daqui, os "cortes" que vou fazer no texto vão ser um bocado... hm... rafeiros.
Só há mais dois capítulos: o resto do 5 e o 6. Acontece que são capítulos muito grandes, e se não os cortar vocês vão ficar com os olhos em bico só de olhar...
Perdoem-me se cortar a acção toda ;) Mas assim até é giro e vocês ficam curiosooos! Ou não. Mas é giro pensar que sim :)
Um comentário:
buaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhh
mas pronto... tá bem Inesita... tá bem!
Um beijinho muito grandão!
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