Viveu na rua durante dois anos. Aqui e ali, fez uns trabalhos como empregada doméstica, que lhe davam para alugar uma pensão durante umas semanas. Mas invariavelmente, os patrões acabavam por descobrir a vida que ela levava e tinham horror a ter uma sem-abrigo em casa, debaixo do mesmo tecto que os filhos. Por isso, passados uns dias ou umas semanas, voltava para os becos da cidade e poupava o dinheiro até ao último cêntimo, comendo pães às migalhas para durarem muito tempo.
Não gostava nada de pedir, porque sentia que as pessoas não tinham obrigação de a ajudar. Tinha-se arruinado, tinha que viver às suas custas.
Numa noite, depois de o dinheiro do último trabalho ter acabado e não comendo há dois dias, Laura desesperou.
Cheia de fome e temendo não conseguir sobreviver mais uma noite, fez o trabalho mais sujo e mais indigno para uma mulher.
Foi fácil arranjar um cliente àquela hora. Saídos das discotecas, miúdos ricos e bêbados vagueavam pelas ruas espalhafatosamente. Riam de tudo e de nada, e não sabiam da triste figura que faziam.
Um deles olhou-a de repente. Não tinha reparado que existia ali mais alguém além dele e do grupo de amigos, que também não estavam num melhor estado.
O rapaz puxou-lhe o braço. Agora, na claridade, conseguia ver-lhe bem os olhos verdes. Laura sentiu-lhe um hálito de cerveja que a enojou.
De olhos arregalados, olhou-a de alto abaixo e perguntou:
- Quanto é?
- 100 euros – respondeu.
- Eh lá, as putas estão caras!
- É pegar ou largar.
O rapaz sorriu e olhou para os amigos, que tinham parado lá à frente, ao dar pela sua falta. Com a cabeça, disse-lhes para irem andando e arrastou-a para um beco.
Foi a experiência mais horrível de toda a sua vida. Ele tresandava a cerveja e a suor e agarrava-a com força de um animal. Rasgou-lhe as roupas, maltratou-a, deixou-a sozinha. No fim, meteu-lhe uma nota de 20 na mão que tremia e nunca mais voltou.
Durante dias, não conseguiu reagir. Comprou um saco de pães com o pior dinheiro que já tinha ganho e permaneceu horas e horas no mesmo sítio, a olhar para o mesmo centímetro de chão, com a mesma expressão na cara.
Jurou para nunca mais. Preferia morrer a sujeitar-se àquilo. Já não se conhecia. A Laura tinha desaparecido, ficara um resto de uma desconhecida. O seu rosto já não tinha os mesmos traços. A vida tinha-a vencido.
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